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Terça, 27 Setembro 2016 00:00

33 anos do Programa de Aids de SP: o funcionário mais antigo, José Reinaldo ensina que ‘tempero do amor fez a diferença na construção do trabalho’

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Otimista, brincalhão, torcedor do Santos, pai de duas filhas gêmeas, Juliane e Gabriele, casado com Silvia Costa, atualmente diretor do Hospital Dia do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo (CRT-SP). O funcionário mais antigo do CRT trabalha há 28 anos por lá. Adora.  José Reinaldo da Piedade(foto), enfermeiro por formação, diz que neste tempo todo de trabalho a chegada de medicamentos e o avanço da tecnologia contribuíram para melhorar a condição de vida das pessoas que se infectaram pelo HIV. "Se tivesse que voltar atrás, faria tudo de novo, 10 mil vezes. Faço tudo com amor. O CRT é minha casa. Trabalhar com amor, faz toda a diferença."

As intercorrências e fatalidades que acontecem com a gente no caminho, em alguns casos, são decisivas e mudam o rumo de nossa história e vida. No caso do Jose Reinaldo da Piedade, uma cirurgia que aconteceu no coração aos 18 anos, para corrigir uma má formação congênita que o deixou internado por um mês, foi fundamental para a escolha da carreira de enfermeiro: "Eu passei a acompanhar o trabalho das enfermeiras que cuidavam de mim. Olhava tudo, me interessei. A do turno da noite me deixou até preencher um relatório". Pronto, era a deixa que ele precisava para seguir sua vocação de "cuidar" das pessoas.

Formou-se em 1987, cursou a Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia Dom Domênico.  Uma amiga, também recém-formada, disse que estavam recrutando profissionais para trabalhar no Emilio Ribas. "Na época, "aquela doença" causava tanto medo que muitos profissionais de saúde chegavam e iam embora imediatamente", lembrou. Não foi o caso de Jose Reinaldo que ao lado da Dra. Rosana Del Bianco, ficou no embrião do que seria o hoje Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo. "Era um cubículo no Emilio Ribas, duas salinhas, Dra. Rosana e eu... Vi isso aqui crescer e acolher muita gente."

Perdas e superação

Foto: em sua sala dois detalhes: soldadinhos, presente das filhas  e a imagem de São Judas.

Até então ele tinha tido contato com o assunto HIV/Aids, " só pela mídia". "Momento muito difícil de lidar com tudo. Era um terror. O Estado abria concurso. 10 entravam e muitas vezes ficavam apenas dois profissionais de enfermagem. Da minha turma, por exemplo, só ficou eu". Quis saber se ele teve medo. "Olha, não sentia medo não. Eu realmente gosto de cuidar. Este meu gostar de cuidar e o desafio de lidar com uma doença nova, falaram mais alto", explicou. "Vi muita gente morrer. Não tinha remédios, os cuidados eram só paliativos. Quando apareceram as crianças, eu fiquei mais sensibilizado ainda. Chorei muito escondido pelos corredores do CRT sabe?"

Neste momento difícil de lidar com a aids e as perdas que ela nos impõe, Jose Reinaldo  trabalhou com  Margarida,  sua chefe. Discípula de Allan Kardeck, muito humana e espiritualizada ela o confortava. "Ela me ensinou a ver o ser humano de outro jeito, independente de cor, raça, religião. Ela dizia: ‘vamos tratar deles como se fossem um parente querido da gente’, aprendi assim", contou. "Se existe uma formula para superar esses momentos e tantas mortes? A fé em Deus. Eu rezava e pedia para que ele ajudasse os pacientes", lembrou emocionado.

O paciente que até hoje mais mexeu com Jose Reinaldo chamava-se Marcos. Ele não lembra o sobrenome. Contou que era bem emburrado. Detestava os procedimentos clínicos que precisavam ser feitos.  "Fui indo aos poucos, ganhando a confiança dele, quebrando as resistências. Ficamos amigos. Cheguei a tomar café da tarde na casa dele. Fiquei muito triste quando ele partiu. Mas acredito que foi acolhido e que esta em bom lugar".

No CTR, a esposa Silvia vira colega de trabalho

Casado com Silvia Costa(os dois na foto), eles têm duas filhas gêmeas, Juliane e Gabriele, e dois gatos. Silvia faz parte de um grupo de pessoas apaixonadas por gatos no whatsapp. Um detalhe importantíssimo: ela também é enfermeira e trabalha no CRT. "Nunca brigamos. Namoramos cinco meses e casamos. Quando entramos no trabalho, separamos as coisas, colocamos limites, somos profissionais", ensina. Ela também esta no Centro faz tempo, os mesmos 28 que o marido. Entrou depois dele. Foi enfermeira, coordenadora de enfermagem e atualmente trabalha no setor de compras e qualidade das empresas terceirizadas. Soube que no Hospital Emílio Ribas estavam fazendo contratos de emergência para enfermeiros e se  inscreveu. Tanto para Silvia, como para Jose Reinaldo, o CRT tem um gosto diferente. "Existe uma historia que construímos juntos. Éramos recém-formados, imaturos e queríamos fazer diferente. Passamos barreiras, situações difíceis. Tem que ter emoção e compromisso no que faz", ensina Silvia.

Fonte: http://agenciaaids.com.br/home/noticias/noticia_detalhe/25403